Quando eu entrei neste apartamento pela primeira vez em algum dia aleatório de junho e vi aquela saída para a sacada, logo visualizei as luzinhas de Natal exatamente na posição em que estão agora. O apartamento estava completamente vazio, novo e inabitado. Eu nunca havia morado sozinha num lugar só meu e muito menos tido vontade de decorar qualquer um dos outros lugares em que morei ao longo dessas três longas décadas. Luzinhas de Natal eram literalmente a última coisa que minha nova sala em potencial precisaria, mas eu as vi ali antes de qualquer outra coisa. Vai entender.
Fora todas as outras infinitas partes dessa nova fase da minha existência que eu jamais poderia prever, ter que pensar na quantidade de soquetes por metro de um festão de luz preto, mas que poderia ter sido branco, não era algo que eu teria conjecturado neste inspirado auge. Muito menos o rolê para conseguir o combo completo. Talvez você se pergunte por que não um varal simples de luzinhas natalinas que todo mundo acha e compra no mercado. Esse blog está voltando agora então vou te responder antes da história começar, já como uma forma de apresentação: se não fosse um troço difícil de encontrar, conseguir comprar e/ou fazer acontecer, não seria um troço eventualmente meu.
Chegou novembro e comecei a pesquisar na doce ilusão de ser algo comum afinal eu vejo essas lampinha em vários restaurantes, cenários e instalações por aí. O que todos esses ambientes têm em comum é simples: são estabelecimentos de negócios e não o apartamento de uma mera mortal. Há versões simplificadas dessa ideia na internet, claro, mas aí entra outra parte sobre mim que vale pontuar: eu não gosto de versões simplificadas das coisas. Ou eu consigo seja lá o que for na versão original, ou crio uma só minha.
Tudo isso para umas luzinha de Natal, Cintia disse? Pois é, mano. Imagina viver com este sendo seu único cérebro.
Não demorou muito depois de constatar que a internet estava limitando meus sonhos para eu entender e aceitar que essa minha jornada seria analógica. Primeiro pedi para falar com o dono do restaurante aqui perto que tem luzinhas parecidas na própria decoração.
– Oi moço, tudo bem? Sei que é aleatório mas onde foi que você encontrou essas lâmpadas? – perguntei apontando pro teto.
Ele franziu a testa claramente confuso ao perceber que tinha sido chamado por um funcionário até a frente do restaurante para receber uma pergunta sobre decoração, no meio de um dia normal de trabalho. Eu não sabia o que esperar de resposta, mas mesmo assim o choque veio:
– Nossa, já faz uns quatro anos mas foi na Santa Ifigênia.
Eu deveria ter imaginado. Foram tantos dias caóticos andando com o meu pai por essa famosa rua de São Paulo e suas adjacências em busca de equipamentos complexos que, se minha memória servisse pra alguma coisa, ainda hoje a conexão entre qualquer item incomum de ligar na tomada e aquela região seria nada além de óbvia.
Agradeci o dono do restaurante pela prestabilidade e daquele momento em diante comecei a me preparar psicologicamente. Não só eu iria de transporte público, mas sozinha.
Uma das vantagens de acumular mais tempo de vida é entender pela experiência que, em algumas situações, fingir que você sabe exatamente o que está fazendo é de fato a melhor estratégia – mesmo que você não faça ideia nem se tem que ir para direita ou esquerda, no caso da Santa Ifigênia.
Quando vi a primeira loja abarrotada de lustres, cabos coloridos e lâmpadas de todos os tamanhos e formatos, busquei logo pela primeira pessoa que fizesse contato visual comigo e, sem cerimônias, comecei a explicar minha visão com um total de zero termos técnicos que realmente explicassem o que eu estava procurando. Ele entendeu e hoje posso dizer que sou alguém que sabe a diferença entre um filamento incandescente e um de LED. Fui então direcionada para três outras lojas que resolveriam cada uma das partes do Frankenstein que eu acabei montando.

Escrever esse último parágrafo agora me lembrou de quando voltei na loja de móveis e decoração, uns três meses depois de terminar minhas compras aqui para o apartamento, e vi de novo o vendedor que havia me ajudado ao longo do processo. Quis mostrar pra ele uma foto do resultado final da minha “sala de jantar” e o comentário dele me fez cair na gargalhada.
“Eu nunca tinha visto tanta determinação para encontrar os bancos certos. Valeu a pena, parabéns” – ele falou de um jeito tão sério e compenetrado enquanto dava zoom na foto que eu só consegui rir em resposta. De novo, ser a pessoa sob o comando desse meu cérebro, sabe…
No fim das contas, podemos tirar algumas lições dessa saga das luzinhas:
1 – Ter uma visão clara e bem definida do que a gente quer faz com que fique muito mais fácil saber o que você precisa fazer para conseguir, mesmo quando é difícil.
2 – Pesquisar e determinar os passos que você precisa dar para chegar onde quer é necessário. As coisas não caem no nosso colo e as escolhas que a gente faz ao longo do caminho podem mudar tudo;
3 – Confiar na sua visão inicial é importante e saber se adaptar também – o resultado final ser diferente do que o que você havia imaginado a princípio não é algo necessariamente ruim (mas é muito legal realizar EXATAMENTE a coisa também);
4 – Nem todas as respostas estão na internet. Eu, por exemplo, não conseguiria ter comprado essas lampinha online nem com a ajuda do próprio Papai Noel.
5 – Vale a pena ser fiel aos seus instintos. Se sentir que deve insistir, insista. Se sentir que deve desistir, desista. Se sentir que deve falar, fale. Se sentir que deve ir até a Santa Ifigênia, vá. Tô ficando mais velha e percebendo que a gente não se arrepende quando é verdadeiro com o que sente. Vou morrer com todo mundo me achando chata, mas se caísse um raio na minha cabeça hoje, eu morreria feliz por ser quem eu sou.
Essa semana eu vou abrir vagas para um desafio de Natal lá no Instagram que com certeza vai te ajudar a finalizar esse ano com resultados legais e muita energia e motivação para seguir em frente. Não perde, tá? É só seguir lá, @cintiadisse.

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